Enquanto a Secretaria de Transportes limita-se a divulgar apenas a quantidade de viagens por faixa horária, o Flumibuss aposta em previsibilidade e transparência para o passageiro.
Foto: Gabriel Petersen Gomes
A mobilidade urbana no Rio de Janeiro enfrenta um problema que vai além dos da superlotação nos ônibus ou do ônibus que não passa: a falta de transparência. A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) insiste em divulgar dados genéricos como “quantidade de viagens por faixa horária”, um dado técnico que pode servir para relatórios internos, mas que pouco ajuda quem depende do transporte público no dia a dia. O que importa é saber que horas o ônibus realmente passa.
Afinal, de que adianta saber que haverá “10 viagens entre 6h e 9h” se o passageiro não tem como prever em que minuto o ônibus vai passar no ponto? Ou então: qual o horário do último ônibus no sentido bairro? Essa escolha da Prefeitura reforça a falta de transparência e deixa claro que a comunicação com o usuário não é – e nunca foi – prioridade.
Essa lacuna de informação não é apenas um descuido — é uma forma de negligência. Ao esconder os horários reais das viagens, o município transfere para o cidadão a responsabilidade de adivinhar, esperar, se frustrar. E é justamente por isso que nasceu o projeto de mapeamento de horários do Guia Flumibuss RJ: como uma resposta direta à omissão institucional.

O projeto de mapeamento de horários do guia de linhas foi criado justamente para oferecer ao cidadão o que o município não entrega: informações organizadas, acessíveis e realmente úteis para planejar os deslocamentos. Ele não é apenas uma ferramenta útil. É um ato de resistência. É o cidadão fazendo o trabalho que o poder público deveria fazer.
E a situação piorou recentemente. Até o plano operacional de junho, os documentos oficiais ainda traziam os horários de início e fim das partidas de cada linha — uma informação básica para qualquer planejamento. Mas no plano de julho, atualmente em vigor, esses dados foram simplesmente removidos. Isso compromete ainda mais a previsibilidade do sistema e torna o trabalho de quem tenta organizar e divulgar essas informações quase inviável. É como se o município estivesse deliberadamente dificultando o acesso à verdade sobre o funcionamento do transporte público.
Este documento, de acesso público e disponível no site da Secretaria Municipal de Transportes, é pouco divulgado. Mas é pouco divulgado porque traz apenas informações escassas e que um passageiro leigo não vai conseguir entender. Coisas como: Porque eu preciso saber que entre 6h e 9h, a minha linha faz 34 viagens? Ou então: Qual o último horário do meu ônibus?

Mais do que um serviço, o projeto é também uma forma de crítica prática à gestão municipal. Se o município não quer informar, nós informamos. Se o poder público não quer ouvir, nós falamos. E se a mobilidade urbana continuar sendo tratada como um problema secundário, continuaremos mostrando que ela é, na verdade, central para a dignidade de quem vive e trabalha no Rio de Janeiro. Porque transparência e utilidade não são favores, mas direitos de quem usa o transporte coletivo.
Confira lista de empresas e algumas linhas que já contam com o mapeamento de horários:
- Todas as linhas urbanas da Paranapuan
- Todas as linhas urbanas da Expresso Recreio
- Todas as linhas urbanas da Vila Isabel
- 808 – Salim x Campo Grande (via Rua Aricuri) (Palmares)
- 693 – Méier x Alvorada (Expresso) (Transurb)
- SPA483 – Fiocruz x Ipanema – General Osório (via Expressa) (VG)
- SN388 – Cesarão x Candelária (via Deodoro / Avenida Brasil / Lapa – Parador) (Campo Grande)
- 975 – Madureira Shopping x Terminal Fundão (via Penha) (Caprichosa / Três Amigos)
- SN368 – Rio Centro x Candelária (via Cidade de Deus/Serra/Lapa) (Redentor)
- 959 – Metrô Vicente de Carvalho x Irajá (via IAPC – Circular) (Caprichosa)
E a nossa ideia é, aos poucos, esse mapeamento ser expandido, até conseguir 100% de mapeamento das linhas urbanas, já que as executivas são regidas por outras regras e não entram no subsídio. Vale destacar que este é um processo minucioso e que pode levar meses, dada a quantidade de linhas em operação. Mas seguimos firmes, com o compromisso de oferecer um conteúdo responsável, acessível e de utilidade pública.