Levantamento inédito mostra que as linhas convencionais da cidade perderam quase 70% da demanda se comparado com antes da pandemia. Mas que já recuperaram 43% da demanda perdida com a flexibilização.
É inegável que a pandemia do novo coronavírus mexeu com a vida de todos. E com as empresas de ônibus do Rio não foi diferente. Um levantamento inédito feito pelo Portal Flumibuss RJ mostra que as linhas urbanas do Rio, no início da pandemia, perderam quase 70% da demanda de passageiros. Mas que com a flexibilização em curso, rapidamente tiveram uma recuperação. É o que mostra o Relatório Diário de Operações da Prefeitura do Rio, um documento que mostra quanto que cada linha da cidade carregou em determinado período.
O Portal conseguiu, por meio da Lei de Acesso à Informação, aos dados referentes aos meses de Abril, primeiro mês após a declaração de pandemia, e Setembro/2020, com a flexibilização em curso. Após os dados consolidados (já que não fora disponibilizado o total consolidado, apenas o detalhado), os meses apontam uma queda de 69,12% no número de passageiros em Abril/2020, primeiro mês após a declaração da pandemia, em comparação à Dezembro/2019 (último relatório disponível no site Transparência da Mobilidade). Se comparado Dezembro/19 com Setembro/2020, a queda no número de passageiros já é um pouco menor: 43,06%.
Mesmo podendo apresentar algumas divergências de dados (pois é muito comum empresas ligarem os validadores em uma linha, porém, com o passar do dia e dependendo do operacional da empresa, pode ser passado para outra linha, mas com o mesmo validador de antes), com este relatório dá para se ter uma noção no volume de passageiros que as empresas carregam. Para a elaboração desta matéria, foi utilizado apenas os dados totais, isto é: considerando o somatório de gratuidades + pagantes.
Enquanto uma linha teve queda e não voltou a operar, outra linha teve uma queda e recuperação astronômica
Utilizando os dados entre Dezembro/2019 e Abril/2020, a linha 2305 (Jardim América x Castelo), da Viação Pavunense, foi a que levou o maior baque no número de passageiros. De 84.223 passageiros transportados em Dezembro/2019, em Abril/2020 carregou apenas 224 passageiros, uma redução de 99,73%. E nos meses seguintes, a linha foi suspensa com a pandemia e nunca mais retornou. Já a 686 (Fazenda da Bica x Cascadura / Madureira), da Viação Acari aparece em 2º lugar, com uma redução de 99,66% (de 10.973 para apenas 37 passageiros). Mas surpreendentemente, com os dados de Setembro/2020, a linha deu um salto de mais de 14.000% no número de passageiros. Dos mesmos 37 passageiros de Abril, passou para 5.296 passageiros em Setembro).
Uma coisa é certa: mesmo com as restrições severas do início da pandemia, a linha que mais carrega na cidade ainda é a mesma desde sempre: a 864 – Campo Grande x Bangu, da Viação Jabour. Veja os números nos três cenários que estão sendo avaliados nesta matéria:
| Linha | Carregamento Dez/2019 | Carregamento Abril/2020 | Carregamento Setembro/2020 |
| 864 | 1.039.069 | 466.416 | 749.125 |
Comparando Dezembro/2019 com Abril/2020, a 864 teve uma queda de 55,11% no carregamento de passageiros. Entre Abril e Setembro/2020, a linha registrou um aumento de 60% no número de passageiros.
As 10 linhas que mais perderam passageiros entre Dezembro/2019 e Abril/2020:
| ORDEM | LINHA | EMPRESA | CONSÓRCIO | TOTAL PASSAGEIROS – DEZEMBRO/2019 | TOTAL PASSAGEIROS – ABRIL/2020 | VARIAÇÃO DEZ/19-ABR/20 |
| 1 | 2305 | Pavunense | Internorte | 84.223 | 224 | -99,73% |
| 2 | 686 | Acari | Transcarioca | 10.973 | 37 | -99,66% |
| 3 | 892 | Palmares | Santa Cruz | 15.595 | 89 | -99,43% |
| 4 | 349 | Gire / Pavunense | Internorte | 19.580 | 219 | -98,88% |
| 5 | 551 | Três Amigos | Transcarioca | 50.167 | 573 | -98,86% |
| 6 | 2345 | Normandy | Transcarioca | 36.575 | 606 | -98,34% |
| 7 | 439 | Vila Isabel | Intersul | 67.678 | 1.293 | -98,09% |
| 8 | 851 | Jabour | Santa Cruz | 99.993 | 2.268 | -97,73% |
| 9 | 222 | Vila Isabel | Intersul | 6.603 | 172 | -97,40% |
| 10 | 434 | Braso Lisboa | Intersul | 199.843 | 5.600 | -97,20% |
Neste top 10, além do destaque da 686, que cresceu mais de 14.000% após retomar as operações, outra linha que merece atenção é a 2345, da Viação Normandy. Depois da flexibilização, a empresa alterou o itinerário dela para circular pelo bairro de São Cristóvão, além de reduzir o preço da passagem de R$ 13,80 para R$ 10,00. Em tempos onde a operação urbana vem perdendo passageiros para os transportes por aplicativo, uma opção executiva em conta chama a atenção de passageiro.
Se comparado os dados de Dezembro/2019 e Setembro/2020, a linha 345 (Jardim Oceânico x Candelária), da Auto Viação Tijuca, foi a que mais perdeu passageiros: de 51.912 para apenas 538 passageiros, uma redução de 98,96%. Em seguida vem as linhas 680 (IAPI da Penha x Méier), da Penha Rio, que sofreu uma redução de 97,21% (de 66.073 para 1.846) e a linha 434 (Grajaú x Siqueira Campos), da Braso Lisboa, que sofreu uma redução de 96,79% (de 199.843 para 6.405).
As 10 linhas que mais perderam passageiros entre Dezembro/2019 e Setembro/2020:
| ORDEM | LINHA | EMPRESA | CONSÓRCIO | TOTAL PASSAGEIROS – DEZEMBRO/2019 | TOTAL PASSAGEIROS – SETEMBRO/2020 | VARIAÇÃO PERCENTUAL |
| 1 | 345 | Tijuca | Transcarioca | 51.912 | 538 | -98,96% |
| 2 | 680 | Penha Rio | Internorte | 66.073 | 1.846 | -97,21% |
| 3 | 434 | Braso Lisboa | Intersul | 199.843 | 6.405 | -96,79% |
| 4 | 102 | Braso Lisboa | Intersul | 113.310 | 4.426 | -96,09% |
| 5 | 822 | Pégaso | Santa Cruz | 57.083 | 2.478 | -95,66% |
| 6 | 857 (SE017) | Campo Grande / Barra / Palmares | Santa Cruz | 199.646 | 10.305 | -94,84% |
| 7 | 939 | Futuro | Transcarioca | 58.675 | 3.442 | -94,13% |
| 8 | 841 | Palmares | Santa Cruz | 62.396 | 3.707 | -94,06% |
| 9 | 2112 | Redentor | Transcarioca | 16.960 | 1.200 | -92,92% |
| 10 | 435 | Real / Braso Lisboa | Intersul | 299.775 | 24.372 | -91,87% |
No total geral, em Dezembro/2019, todas as linhas urbanas do Rio transportaram pouco mais de 70,2 milhões de passageiros. Em Setembro/2020, 4 meses após o início da flexibilização, as linhas urbanas da cidade já estavam carregando 39,7 milhões de passageiros, recuperando 43,06% da demanda perdida em comparação com antes da pandemia.
O que estes números podem indicar?
Mesmo com a flexibilização, iniciado em Junho do ano passado, as empresas de ônibus terão muita dificuldade para retomar o volume de passageiros de antes da pandemia. Pois muitos fatores ainda contribuem para que a retomada do volume de passageiros volte ao patamar de antes da pandemia. A adoção do home-office de maneira efetiva, contribuindo para que mais empresas devolvam escritórios, principalmente no Centro do Rio, reduzindo assim os custos; a crise econômica que veio embutida com a crise sanitária, provocando uma demissão e fechamento de comércios em massa.
Em entrevista, a secretária municipal de Transportes, Maína Celidônio, disse que as passagens não deverão ser reajustadas este ano. E que os contratos passarão por uma auditoria para identificar os (muitos) problemas que refletem na prática da operação. Caso se confirme o não reajuste este ano, e a ajuda federal, vetada pelo presidente Jair Bolsonaro, realmente não venha, a situação pode ir pra um buraco sem fundo.
Confira abaixo, na íntegra, os relatórios consolidados. O primeiro referente ao período entre Dezembro/2019, Abril/2020 e Setembro/2020 (cenário pré, início da pandemia e flexibilização), e o segundo referente aos dados entre Dezembro/2019 e Setembro/2020 (cenário pré x pós-pandemia), desconsiderando os dados de Abril.