Insatisfeitos com a proposta de redução por até 10 dias nos vencimentos, rodoviários da empresa cruzaram os braços.
Após a carta publicada pelo BRT Rio no final de semana, dizendo que a empresa não têm condições para pagar até o básico, como combustível, rodoviários da empresa cruzaram os braços nesta segunda-feira. A motivação foi a proposta acordada entre a empresa e o Sintraturb, sindicato que representa os rodoviários na cidade do Rio, que abre brecha para a dispensa por até 10 dias, com a devida redução salarial. Cabe lembrar que, mesmo indo contra a CLT, por causa da reforma trabalhista, acordos e convenções coletivas sindicais (CCS) têm força de lei.
A empresa alega que, por diversos fatores, como o congelamento das passagens há 2 anos, a expansão do transporte clandestino por vans e do transporte por meio de aplicativos, a concessão de gratuidades sem fonte de custeio e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19, teve as finanças severamente impactadas, deixando bem claro que a empresa pode parar a qualquer momento. Tal nota provocou a reação do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que disse, em seu Twitter, o BRT Rio reduziu a frota durante o mês de Janeiro, mesmo sem a aprovação da Secretaria Municipal de Transportes.
Paes disse, ainda, que não espera ver uma “Operação Tartaruga” por parte do BRT, sugerindo, implicitamente, que a empresa possa estar forçando um locaute (greve por parte do empregador) com o objetivo da Prefeitura dar o tão desejado aumento nas passagens.
Reforço e um prolongamento inédito, mesmo por um dia
Nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira, as imagens registravam que, as poucas alternativas que sobraram, os ônibus convencionais e executivos passavam completamente lotados, aglomerados, um prato cheio para a Covid-19. Ao longo da manhã, a Prefeitura tentou montar um plano de contingência para dar tentar minimizar os impactos da greve.
De imediato, a Prefeitura determinou o reforço nas linhas executivas que seguem em paralelo ao corredor TransOeste (veja a lista logo abaixo), o que provocou uma indignação geral entre os passageiros, pois os ônibus executivos custam entre R$ 14 e R$ 17, bem mais caro que o BRT, que custa R$ 4,05. Além disso, outras 2 linhas urbanas foram prolongadas até o Terminal Alvorada, veja a lista:
Linhas executivas que tiveram reforço na frota:
- 2334 – Campo Grande x Castelo (via Mato Alto / Ilha / Barra da Tijuca)
- 2335 – Santa Cruz x Castelo (via Pedra de Guaratiba / Barra da Tijuca)
- 2337 – Santa Cruz x Castelo (via Sepetiba / Pedra de Guaratiba / Barra da Tijuca)
- 2338 – Campo Grande x Castelo (via Magarça-Maravilha / Barra da Tijuca)
- 2801 – Campo Grande x Barra da Tijuca (via Magarça / Cachamorra)
- 2802 – São Fernando x Barra da Tijuca (via Avenida das Américas)
- 2803 – Vila Kennedy x Barra da Tijuca (via Estrada da Posse)
- 2804 – Bangu x Barra da Tijuca (via Cachamorra)
Linhas urbanas que foram prolongadas:
- 801 – Bangu Shopping x Taquara (via Barata), até o Terminal Alvorada
- 803 – Senador Camará x Taquara (via Bangu), até o Terminal Alvorada
Com a incerteza, mais reforços de frota nas ruas
Ao longo do dia, outras linhas tiveram reforço na frota, por iniciativa vindo das empresas, como o grupo Redentor. Além do reforço de frota em algumas linhas, dois serviços parciais foram postos em prática para auxiliar na demanda, até o Metrô do Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca. Veja a lista:
Serviços parciais emergenciais postos em circulação:
- SPB Integrada 8 (SPB553) – Recreio x Metrô Jardim Oceânico
- SP Integrada 9 (SP554) – Piabas x Metrô Jardim Oceânico (via Vargem Grande)
Linhas que tiveram reforço de frota ao longo do dia:
- Integrada 8 (553) – Recreio x Rio Sul (via Alvorada / Américas)
- Integrada 9 (554) – Piabas x Rio Sul (via Vargem Grande / Alvorada / Américas)
- 565 – Tanque x Gávea (via Freguesia)
- 900 – Taquara x Downtown (via Cidade de Deus)
- 991 – Taquara x Alvorada (via Cidade de Deus)
No final do dia, as linhas 565 e 878 (Tanque x Barra da Tijuca, via Rio das Pedras) passaram a seguir até Cascadura, enquanto que a linha 900 passou a atender também o Jardim Oceânico. O Portal Flumibuss RJ esteve circulando na Barra da Tijuca e registrou ônibus circulando com lotação de banco ou com gente em pé.
Rio Ônibus chegou a entrar na Justiça e apelou para que os rodoviários do BRT voltassem ao trabalho
Em entrevista ao Bom Dia Rio, o porta voz do Rio Ônibus, o sindicato das empresas, Paulo Valente, disse que as empresas não têm dinheiro nem para o combustível. Inclusive, comparou a situação daqui com a dos hospitais de Manaus/AM, por conta da crise do desabastecimento de oxigênio para o tratamento da Covid-19:
“Posso comparar com Manaus, por exemplo. Todo mundo sabia o que acontece lá. O governo federal sabia que iria faltar oxigênio, o estado sabia que iria faltar oxigênio. A prefeitura também sabia, e ninguém tomou providências. No caso do município aqui, é a mesma coisa: a gente já vinha na UTI. As empresas vinham como se estivessem na UTI. Agora acabou o oxigênio”
Paulo Valente, porta-voz da Rio Ônibus
Em entrevista aos jornais locais da TV Globo (Bom Dia Rio, RJ1), o prefeito do Rio, Eduardo Paes disse que não cederia à pressão dos empresários, que pleiteiam um reajuste nas tarifas há 2 anos, e que, se for necessário, decretará caducidade do contrato de concessão que ele mesmo havia celebrado, na primeira gestão dele, em 2010.
“Houve uma ação coordenada hoje. Eu não estou chamando de ‘locaute’ nem estou dizendo que os empregados estavam ali a serviço deles. Mas houve uma ação claramente coordenada, que é inaceitável e não vai se repetir. Se ela se repetir, a resposta será a caducidade do contrato e o cancelamento da concessão”
Eduardo Paes, prefeito
No fim do dia, a vitória que os rodoviários tanto queriam: o BRT Rio confirmou que suspendeu a aplicação do 5º Termo Aditivo, que abria margem para o desconto irregular de até 10 dias de salário, e, com isso, foi solicitado o retorno dos rodoviários ao trabalho. O serviço só começou a ser normalizado por volta das 21:00, com apenas uma linha operando, a 22 (Alvorada x Jardim Oceânico).
Opinião do Portal Flumibuss RJ
O sucateamento de todo o sistema BRT está visível, a empresa brinca de ser “autoridade”, criando serviços sem o aval da SMTR com trajetos bem menores, forçando a troca dentro do próprio sistema 2, 3 vezes. Há culpa de todos os lados: a empresa, que
Se a atual (velha) gestão quer mudar a situação do BRT, é das duas uma: ou cobrem do BRT, a operação correta de todas as linhas e serviços, ou implantem linhas com operação mista, onde ônibus convencionais saem dos bairros, chegando próximo às calhas do BRT, ingressar nelas, para fazer o embarque e desembarque em nível e sair delas para seguir viagem. O que não dá é admitir que o sistema BRT está bem. Pois não está bem. Está de mal a pior. E é só o começo da bomba-relógio. Quem viver, verá.
Com referências ao G1 RJ