O abandono do sistema BRT Rio
O abandono do sistema BRT Rio

O abandono do sistema BRT Rio

Enquanto a empresa abre novos retornos operacionais, uma obra que seria de grande importância para resolver os problemas está abandonada há 4 anos. E, no final, quem se prejudica é o passageiro.

Matéria comentada também em vídeo, no nosso canal do Youtube, com imagens gravadas no Recreio. Confira!

(Vídeo será publicado numa atualização às 11:00 desta segunda-feira, 03)


Uma semana após o BRT Rio abrir um novo retorno na estação Salvador Allende no sentido Alvorada, e que resultou na criação da linha 29 (Salvador Allende x Jardim Oceânico – Parador), a empresa que gerencia todos os corredores de ônibus expresso em breve abrirá um novo retorno operacional no eixo da Avenida das Américas do corredor Transoeste.

O novo retorno operacional, que já está pronto, porém, não está aberto, ficará após a Estação Recreio Shopping e funcionará do sentido Alvorada para o sentido Santa Cruz. O interessante sobre o novo retorno é que o mesmo foi construído com

Novo retorno operacional já pronto, na Avenida das Américas, próximo à Estação Recreio Shopping. A intenção, segundo apurado pelo site, é criar um serviço saindo da Estação Mato Alto com destino à Estação Recreio Shopping. Foto: Gabriel Petersen Gomes

Segundo informações apuradas pelo site, este retorno resultaria na criação de um serviço ligando as estações Mato Alto e Recreio Shopping, que hoje é ofertado pela linha 27 (Mato Alto x Salvador Allende). Enquanto a preocupação do BRT Rio é abrir “retornos operacionais” no eixo da TransOeste, uma obra, não muito longe da Estação Recreio Shopping, chama a atenção pelo abandono em que a obra se encontra.

Ligação entre TransOlímpica e TransOeste deveria estar pronta para as Olímpiadas:

Quem passa de BRT pela Avenida das Américas próximo ao viaduto da Avenida Salvador Allende vê uma pista de concreto no vão entre as pistas do viaduto, mas muitos não imaginam que aquela pista de concreto poderia estar resolvendo a metade dos problemas.

Com a construção do corredor TransOlímpica, havia no projeto a ligação entre o corredor, que liga Vila Militar ao Recreio, com o TransOeste. As obras começaram em Janeiro de 2016, porém, cerca de 4 meses depois, a obra foi parada com 90% dela concluída, restando apenas 50 metros de parede a ser retirado.

Veja no comparativo do antes e depois da obra:

Comparativo do início da obra, em Janeiro/2016, com a obra “parcialmente” pronta, em Julho/2019. Fotos: Reprodução Google Street View.

Ao lado da obra de ligação entre os corredores TransOeste e TransOlímpica está um outro exemplo do abandono do legado olímpico: O Terminal Alimentador do BRT Recreio/Salvador Allende. Construído junto com o Terminal Recreio principal, onde os articulados das linhas 41 e 51 fazem ponto final, o Terminal alimentador era o ponto final das linhas alimentadoras com destino à região das Vargens. Porém, com o fechamento da empresa Translitoral, as linhas abaixo que operavam no terminal desapareceram:

  • 817A – Recreio x Vargem Grande (via Gláucio Gil / Rio Morto)
  • 818A – Recreio x Recreio Shopping (via Silvia Pozzano)
  • 826A – Recreio x Vargem Grande (via Estrada do Pontal / Rio Morto)
  • 827A – Recreio x Vargem Grande (via Benvindo de Novaes)

A Viação Redentor, após o fechamento da empresa, assumiu apenas a 817A, pondo 1 micro-ônibus em circulação, mas com a pandemia do novo coronavírus, a linha foi retirada de circulação.

O cenário atual do terminal alimentador do Recreio parece de abandono: abrigo para passageiros se deteriorando com o tempo, indicativos dos ônibus apagados, bancos pichados. Para não fazerem do terminal um estacionamento para carros, blocos de concreto foram postos na entrada e saída do Terminal, como mostra a imagem abaixo:

Situação atual, em Julho/2020, do Terminal alimentador do Recreio. Um “elefante branco”. Foto: Gabriel Petersen Gomes

Não muito longe dali, o Terminal Centro Olímpico é mais um dos exemplos do “largado olímpico”. Dali, partiriam ônibus alimentadores para os bairros de Curicica e Taquara, mas também, com o fechamento da Translitoral, as linhas também sumiram. Restou tão somente a plataforma do BRT, que é utilizado pela linha 50 (Centro Olímpico x Jardim Oceânico).

A “autonomia” do BRT Rio que prejudica os passageiros:

Desde 2018, o BRT Rio, que antes era um consórcio e, agora, em 2020 passou a ser uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), suprime linhas ou altera o itinerário delas parecendo que a Secretaria Municipal de Transportes autorizou, mas na prática, não é o que acontece. O caso mais clássico foi o da linha 36 (Fundão x Alvorada – Expresso). Com uma frota determinada de 32 articulados, a linha foi retirada de circulação em Janeiro de 2018 sob a alegação de que a Universidade Federal do Rio de Janeiro entraria de férias, e que a mesma retornaria após a universidade retornar as atividades, o que, no mês de Março, não aconteceu. No lugar, opera, até hoje, a linha 46 (Penha x Alvorada – Expresso).

Com a pandemia da Covid-19, começou uma série de modificações, visando evitar superlotação nos articulados, o que é um potencial transmissor da doença. Só que todas as alterações e medidas adotadas de nada adiantaram, pois a superlotação é um problema que persiste até hoje.

Em três momentos distintos registrados pelo Portal Flumibuss RJ, os ônibus articulados estavam bem cheios, o que contraria todas as recomendações sanitárias em virtude da Covid-19. Confira:

Passageiros diariamente reclamam na página do BRT Rio pedindo o retorno das linhas que foram suspensas em razão da pandemia, como a 21A (Recreio Shopping x Jardim Oceânico), 40 (Madureira x Jardim Oceânico) e 53 (Sulacap x Jardim Oceânico). Mas a resposta é sempre a mesma: “Ainda não temos previsão para o retorno da linha”. O que aumenta ainda mais a insatisfação do passageiro.

Estações sendo reformadas na Barra x Estações largadas na Zona Norte e Oeste

Nunca que aquele tese de “favorecimento social” pode fazer tanto sentido. Pois desde o início da pandemia, o BRT Rio iniciou um programa de reforma das estações dos corredores. Até o momento, 5 estações foram reformadas: Novo Leblon, Bosque Marapendi, Paulo Malta Rezende, Afrânio Costa e Riviera, e nesta segunda-feira, 03, a empresa iniciará a reforma na estação Ricardo Marinho.

Estação Paulo Malta Rezende reformada. Enquanto estações da Barra seguem reformadas, o cenário fora da Barra parece de guerra, com estações abandonadas. Foto: Gabriel Petersen Gomes

Enquanto estações da Barra seguem sendo reformadas, não muito longe dali, algumas estações na região de Curicica estão fechadas por conta de vandalismos, como as estações Praça do Bandolim e Divina Providência. Mas isso sem contar o fato de há bairros inteiros sem nenhuma estação do BRT e sem nenhuma opção: são os casos da Vila da Penha, Olaria, Ramos e Bonsucesso. Todas as estações que atendem os bairros (Pedro Taques, Praça do Carmo, Guaporé, Ibiapina, Olaria, Cardoso de Morais e Santa Luzia) foram fechadas após atos de vandalismo e seguem sem previsão para retornar.

E isso sem contar as estações do eixo da Avenida Cesário de Melo, que liga Campo Grande à Santa Cruz, que foram as primeiras a sofrer com vandalismo, o que levou o BRT Rio a fechar elas e optar pela criação da linha SE017 (Campo Grande x Santa Cruz), fazendo o mesmo caminho da linha 17, só que operados por ônibus urbanos. Porém, a linha foi sendo abandonada com o advento da linha LECD33, que faz o serviço semi-direto de Campo Grande à Santa Cruz.

A pergunta que fica é: À quem realmente interessa o sucateamento do BRT e do sistema de transportes como um todo? Porque o maior prejudicado na soma dos fatores é sempre o passageiro, que não tem para onde correr.

O que dizem os citados:

O BRT Rio respondeu, em nota, sobre os pontos citados da matéria:

  • O retorno operacional criado após a Estação Recreio Shopping “possibilita a criação de novos serviços e desvios operacionais.” O BRT não quis comentar sobre quais serviços que serão criados.
  • A empresa possui interesse em concluir a ligação entre os corredores Transolímpica e Transolímpica Porém, a disponibilidade financeira para tal é da Prefeitura do Rio, a qual o BRT Rio não tem ingerência. 
  • Todas as alterações feitas pelo BRT Rio foram autorizadas pela Secretaria Municipal de Transportes, porém, não existe prazo para que as linhas retornem, o que traz uma insegurança para os passageiros
  • Segundo o BRT Rio, o sistema está com 100% da sua frota operante em circulação desde o início da pandemia. Além disso, disponibilizaram álcool em gel nos terminais mais movimentados do sistema e reforçaram a veiculação de medidas de proteção contra a Covid-19, com cartazes em estações e terminais, campanhas em redes sociais e nas TVs embarcadas.
  • Ainda segunda a empresa, a limitação do acesso de passageiros é de responsabilidade exclusiva da Prefeitura, por meio de agentes que tenham poder de polícia. Rodoviários não têm, legalmente, o poder de evitar o acesso de usuários que forçam a entrada em veículos que já tenham sua limitação preenchida.  
  • O BRT Rio irá reformar estações da Transcarioca, e não apenas da Transoeste na região da Barra e Recreio. Segundo a empresa, a Estação Vaz Lobo já está em obras, e assim que as obras na estação forem concluídas, a estação Mercadão será a próxima da lista;
  • O BRT Rio disse, também, que a segurança das estações e terminais deve ser feita por agentes com poder de polícia. Os operadores de estação não possuem tais atribuições. A empresa ressalta que as ocorrências são informadas regularmente ao poder público, para que as autoridades possam tomar as medidas cabíveis.  

A Secretaria Municipal de Transportes disse, em nota, que o BRT Rio não possui nenhuma autonomia para criar ou desativar linhas sem autorização. E como reguladora, a SMTR tem cobrado que a empresa cumpra suas obrigações contratuais e ofereça um serviço adequado e eficiente aos usuários, principalmente durante a flexibilização da quarentena.

Ainda segundo a secretaria, alterações como a redução da linha 40 e em outros serviços, foram autorizadas pelo órgão em caráter temporário como uma forma de dar maior agilidade no embarque e minimizar a aglomerações nas estações e terminais de menor capacidade, como o terminal do Jardim Oceânico. A empresa já foi notificada para que amplie a sua frota em circulação, para acompanhar o crescimento da demanda.

A SMTR disse, ainda, que desde o início da atual gestão, em Janeiro/2017, aplicou 5.929 multas ao BRT, inclusive por suspensão de linhas ou alteração de itinerário sem autorização, além do descumprimento das medidas de contenção à Covid-19.

Por fim, sobre a questão dos terminais alimentadores abandonados (Recreio e Centro Olímpico), a Secretaria disse que “está empenhada em garantir ao cidadão carioca segurança, conforto e eficiência no uso do transporte público em seus deslocamentos pela cidade, e não medirá esforços para buscar melhorias nos serviços ofertados pelos operadores.” E que possíveis adaptações nos serviços são constantemente estudadas pela secretaria, levando em conta as necessidades dos usuários do sistema.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação foi procurada para comentar à cerca das obras de ligação, mas não retornou o contato.

Leia a nota da SMTR na íntegra:

  • Secretaria Municipal de Transportes:

É importante deixar claro que o BRT Rio não tem autonomia para criar ou suprimir linhas sem autorização. E, como reguladora do serviço, a SMTR tem cobrado que a empresa cumpra suas obrigações contratuais e ofereça aos seus usuários serviço adequado e eficiente, principalmente nesta fase de retomada das atividades. Vale destacar que as alterações nos serviços feitas durante a pandemia foram autorizadas pela secretaria, em caráter temporário, a fim de de dar maior agilidade no embarque e minimizar a aglomeração nas plataformas dos terminais e estações do BRT de menor capacidade. A SMTR já notificou a empresa para que amplie sua frota efetiva em circulação, de forma a acompanhar o incremento gradativo da demanda. Além disso, fiscais da secretaria têm atuado diariamente nos terminais de maior demanda para verificar se as medidas de prevenção ao coronavírus estão sendo cumpridas e se os serviços estão sendo ofertados a contento para a população.

Ao longo da atual gestão, a secretaria tem empenhado esforços para coibir inconformidades no sistema e, desde de janeiro 2017, aplicou 5.929 multas ao BRT, inclusive por suspensão de linhas ou alteração de itinerário sem autorização, além de descumprimento das medidas de contenção à Covid-19. Cabe ressaltar que o operador está sujeito a novas sanções, caso os serviços suprimidos não entrem em circulação para atender os passageiros.

A SMTR está empenhada em garantir ao cidadão carioca segurança, conforto e eficiência no uso do transporte público em seus deslocamentos pela cidade, e não medirá esforços para buscar melhorias nos serviços ofertados pelos operadores. Nesse sentido, vale esclarecer que adaptações nos serviços são constantemente estudadas pela secretaria, levando em conta as necessidades dos usuários do sistema.

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