Além de não quererem ouvir as críticas da população, depois da ameaça de locaute feita na sexta-feira, parece que esta está começando a se concretizar, com o sumiço da linha 898, em Sepetiba.
Foto: Gabriel Petersen Gomes
Em meio à crise sistêmica entre Prefeitura do Rio e Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas, que vem se agravando desde o início do ano, uma coisa tem chamado bastante a atenção de algumas pessoas e do Portal Flumibuss RJ: porque a Rio Ônibus limita os comentários em suas redes sociais?
A resposta pode ser várias, mas uma delas acaba ganhando mais força: a população não aguenta mais o descaso que as empresas vêm promovendo desde 2015. Com o fechamento de empresas, supressão de linhas sem autorização, redução de frota em todas as linhas, acaba que a população desenvolve uma certa antipatia pelas empresas, ainda mais depois dos escândalos de corrupção no setor revelados pela Operação Ponto Final.
Um exemplo da falta de diálogo está neste post, publicado hoje, 14, em sua página no Facebook. Um manifesto divulgado pela Fetranspor – federação que representa a Rio Ônibus e outros 9 sindicatos – onde eles pedem “ações conjuntas para superar a crise” não tem a opção “comentar” para que os usuários deixem seus comentários sobre o assunto.
O mesmo artifício pode ser observado em sua página no Twitter. O mesmo post publicado no Facebook e sem a opção de comentar, o que pode corroborar com a tese de que o sindicato percebe que a população os associa ao descaso e a corrupção.
Além disso, o site do sindicato está completamente abandonado. A última notícia publicada, a do aceite da recuperação judicial da Gire Transportes, foi publicada em Setembro de 2021. De lá para cá, nota-se uma falta de atualizações em todos os campos do site, o que demonstra que eles querem restringir o máximo de informações públicas à população.
Inclusive, desde a troca de gestão, no ano passado, o presidente da Rio Ônibus, João Gouveia, não fez uma aparição pública para comentar sobre a crise. Em vez disso, quem acaba colocando “a cara à tapa” é o seu porta-voz, Paulo Valente. Valente que, inclusive, antes de assumir tal cargo, era diretor da Nova FAOL, em Nova Friburgo, e da Transportes Santa Maria, até o seu fechamento em 2017.
Você viu em nossa página no Facebook que a Rio Ônibus solicitou à Prefeitura do Rio uma reunião de emergência para que possam chegar num consenso sobre o reajuste nas tarifas de ônibus. E já deixou bem explícito: andar de ônibus vai ficar cada vez mais difícil, pois já estão começando a paralisar linhas na cidade, o que, em larga escala, pode configurar locaute.
A primeira queixa de linha que sumiu na cidade após as ameaças públicas da Rio Ônibus foi a 898 – Sepetiba x Campo Grande, via Estrada do Campinho, operado pela Expresso Pégaso. Desde o final de semana que a empresa simplesmente retirou sem nenhuma comunicação prévia, o que contraria uma lei promulgada em 2017.
E Sepetiba é um exemplo claro do que pode acontecer nos próximos dias, caso essa rixa entre Prefeitura e empresários piore ainda mais. Oficialmente, o bairro era pra ser atendido por 9 linhas municipais (750, 870, 871, 872, 884, 891, 898, 2337 e 2383), além de uma linha intermunicipal (a 547P – Jardim Paraíso x Sepetiba, da Ponte Coberta).
Mas com o passar dos anos e o agravamento da crise, só restaram no bairro apenas 1 linha municipal com tarifa modal (a 884), ainda assim, com uma frequência muito aquém do aceitável, além dos dois frescões (2337 e 2383), porém passando somente nos horários de pico. Acaba, no final das contas, que a 547P se sobressai e acaba desempenhando um importante papel no deslocamento entre o bairro e a Avenida Brasil, no entanto, a falta de opções atrapalha os moradores de conseguirem vagas de trabalho, pois devido aos altos custos de manutenção de passagem
E é nesse sucateamento das linhas que as vans irregulares encontram a brecha perfeita para realizar a concorrência desleal, pois com a ausência dos ônibus, eles acabam sendo a salvação para os passageiros chegarem em suas residências sem precisar de transporte por aplicativo.
E quem acha que o problema é específico de uma região, está enganado. O transporte irregular por vans está se alastrando em uma velocidade além do normal em todas as regiões da cidade. Até mesmo na Zona Sul do Rio, onde muitos acreditam que o transporte é perfeito, as vans estão começando a aparecer.
O Portal Flumibuss RJ já mostrou que as vans estão dominando o eixo Gávea – Central pelo Jardim Botânico, principalmente após as 16:00. Não é muito incomum ver vans passando pela Praia de Botafogo com passageiros em pé, especialmente aos domingos, já que as opções do trecho (Troncal 5 e 309) acabam demorando a passar.
Reforçando o que dizemos no post do Facebook: enquanto Eduardo Paes segue em sua tentativa desesperada de salvar o sistema BRT visando a sua eventual reeleição em 2024, o passageiro de hoje segue sendo humilhado por ambos os lados: a Prefeitura, por não fazer valer de seu poder concedente e deixar as empresas fazerem o que querem, e a Rio Ônibus, que graças a falta de entrosamento com a municipalidade, faz o que quer, sem comunicar com a população e ainda querem que estes continuem andando de ônibus e não em vans, ou transportes por aplicativo.
Tanto Eduardo Paes, quanto Rio Ônibus precisam admitir que o sistema em que conhecemos está quebrado e precisa ser refeito do zero. E, principalmente, não insistir no erro que é colocar o BRT sendo a única opção. O BRT TransBrasil está em vias de ser finalmente aberto, e a insistência do Paes no modelo que ele adota desde a implantação da TransOeste pode custar muito caro à população de toda a Região Metropolitana do Rio.
Este artigo representa a opinião do Portal Flumibuss RJ