A falta de transparência sobre mudanças de itinerário dos ônibus neste Carnaval mostra o total descaso da Prefeitura com o setor
Gabriel Petersen Gomes
O Carnaval está chegando ao fim, mas fica uma reflexão: enquanto houve uma ampla divulgação no esquema operacional dos trens da Supervia e do Metrô Rio, com trens operando durante as 24 horas dos desfiles na Sapucaí, e esse esquema voltando para o sábado das campeãs (no próximo dia 29), para quem precisou do ônibus convencional sofreu, e sofreu muito. Seja pelas inúmeras interdições no entorno do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, seja pelos blocos e festas de Carnaval espalhados pela cidade. E principalmente pelo fato de que não houve nenhuma divulgação sobre as mudanças previstas em toda a cidade. Deixando os próprios motoristas de ônibus fazerem o itinerário que bem entende, e o passageiro tendo que se virar.
O foco maior dos desvios de itinerário foi a região do Sambódromo (que envolve os bairros da Cidade Nova, Estácio, Catumbi e Rio Comprido). Via de regra, o desvio dito “oficial” é feito da seguinte forma:
- Linhas vindas do INTO (Avenida Brasil ou Ponte):
- Municipais: … Avenida Francisco Bicalho (pista lateral) – acesso à Avenida Paulo de Frontin – Avenida Paulo de Frontin – Rua da Estrela – Rua Itapiru – Rua Doutor Agra – Rua Eleone de Almeida – Rua Doutor Ladgen – Túnel Martim de Sá, retornando para a Presidente Vargas via Cruz Vermelha ou seguindo para o Castelo via Lapa
- Intermunicipais: … Via Expressa do Porto (pista expressa) – Túnel Prefeito Marcello Alencar – Avenida General Justo – Avenida Marechal Câmara – Avenida Franklin Roosevelt – Avenida Antônio Carlos, seguindo para a Central via Primeiro de Março.
- Linhas vindas da Grande Tijuca ou Grande Méier com destino ao Centro/Zona Sul: … Praça da Bandeira – Rua do Matoso – Rua Haddock Lobo – Avenida Paulo de Frontin – Rua da Estrela – Rua Itapiru – Rua Doutor Agra – Rua Eleone de Almeida – Rua Doutor Ladgen – Túnel Martim de Sá, retornando para a Presidente Vargas via Cruz Vermelha ou seguindo para o Castelo ou Zona Sul via Lapa
Porém, durante estes dias de Carnaval, em visitas à dois pontos dos desvios de itinerário (próximo ao Aeroporto Santos Dumont e à Rodoviária), o que se pôde observar foi que os ônibus estavam fazendo o itinerário que menos ficasse agarrado no trânsito. No entorno da Rodoviária, o que mais se viu foi quase todas as linhas que vem da Avenida Brasil indo (alguma até voltando) pelo Túnel Marcello Alencar, e isso inclui linhas municipais e intermunicipais.
Houve inclusive até alterações de ponto final, deixando de atender completamente o Centro do Rio, com ou sem interdição. Algumas destas mudanças foram:
- Linhas 368 (Rio Centro x Candelária) e 390 (Curicica x Cancelária) fazendo ponto final na Praça da Bandeira
- Linhas 296 (Irajá x Castelo), 298 (Acari x Castelo) e 371 (Praça Seca x Praça da República) fazendo ponto final na Rua Francisco Eugênio, ao lado do Instituto Médico Legal, na Leopoldina.
- Linhas do Grupo Redentor que atendem a Avenida Brasil (343, 348, 379, 394) retornando no INTO.
- Linha 383 fazendo ponto final na Rodoviária
Porém, em nenhum destes casos não foi nem sequer divulgado pela Prefeitura do Rio e a Secretaria Municipal de Transportes, deixando passageiros à pé e indignados. Muitos passageiros só descobriam que determinado ônibus não iria passar por tal lugar no momento em que ele sobre nele, avisado pelo motorista.
O Portal Flumibuss embarcou em duas linhas durante o Carnaval. Veja nossos relatos:
Na segunda-feira de Carnaval, o Flumibuss esteve na Rodoviária e tentamos embarcar num ônibus da linha Troncal 4 (Leblon x Rodoviária – via Catete). Nas três vezes em que tentamos embarcar, sendo as três em ônibus da Real Auto Ônibus, os três motoristas estavam alertando que o ônibus pegaria o Túnel Santa Bárbara, deixando de atender o miolo da Central, Lapa, Glória e Catete. Questionamos aos despachantes da linha, pois cada empresa que opera na linha tem seu próprio despachante. Enquanto não tínhamos localizado o da Gire Transportes, o da Real Auto Ônibus rechaçou os alertas dados pelos motoristas e que para chegar à região da Lapa, onde queríamos descer, deveríamos utilizar o VLT, sendo que o mesmo só estava circulando, no dia, até a Parada dos Museus.
Já na terça-feira, o Portal Flumibuss RJ voltou à Rodoviária e, após, tentamos embarcar novamente num ônibus da linha Troncal 4. O primeiro ônibus que estava na placa do Terminal Henrique Otte, era um da Real Auto Ônibus. Assim que tentamos embarcar, o motorista avisou que não estaria passando pela Central, Glória, Catete, fazendo o itinerário pelo Túnel Rebouças, completamente fora de rota dela. Insistimos para que o motorista realizasse o itinerário pelo Túnel Marcello Alencar, porém, o motorista foi incisivo em sua decisão.
Esperamos pelo próximo ônibus, da Gire Transportes. Ao embarcarmos, diferentemente do primeiro motorista, o mesmo foi bastante cortês em alertar que o ônibus iria pelo Túnel Marcello Alencar, saindo no Aeroporto Santos Dumont. Diferentemente do primeiro caso registrado na terça, o motorista tentou cumprir o trajeto mais lógico possível, desviando dos bloqueios que ainda insistiam pelo Centro, sem deixar o eixo Glória x Flamengo desassistido.
Enquanto que no Rio, houve zero divulgação nos desvios de itinerário dos ônibus, em rápida pesquisa por gerenciadoras do transporte público em outras capitais, o que se viu foi sites especiais criados exclusivamente para o período momesco, onde o passageiro pôde consultar se determinada linha haveria desvios de itinerário ou então, a criação de serviços especiais para atender à região do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, como mostra estas reproduções abaixo:
Diante dos exemplos mostrados acima, pode-se perceber que o que falta de transparência é um item que sempre se faz presente na gestão do prefeito Marcelo Crivella, que tenta a reeleição com um alto índice de rejeição. No web-site criado pela Prefeitura do Rio, não há nenhuma menção sobre possíveis alterações no trânsito da cidade, seja por causa dos desfiles no Sambódromo, seja pelos blocos e festas populares, conforme a reprodução do site abaixo:
É inegável que quando os trens e metrô funcionam 24 horas durante o Carnaval, beneficiam muita gente, e tais esquemas foram divulgados com, pelo menos, 10 dias de antecedência. Porque a Secretaria Municipal de Transportes não teve a mesma eficiência e avisou aos passageiros de ônibus? Montando um esquema super importante para o passageiro não se perder? Em matéria de transparência da mobilidade urbana, o Rio perde de lavada para outras capitais. Das 10 maiores capitais brasileiras, apenas o Rio de Janeiro, Manaus (AM) e Salvador (BA) não possuem dados disponíveis para consulta na internet sobre horários e itinerários vindos do poder público, embora a capital do Amazonas tenha projetos paralelos que disponibilizam tais dados.
A Federação das Empresas de Transporte (Fetranspor) até possui uma ferramenta para divulgação dos itinerários, o Vá de Ônibus, mas o mesmo só divulga os itinerários, e não divulga horários de funcionamento, além de estar bem defasado. Com linhas que foram desativadas, mas que ainda fazem parte do banco de dados do site.
Veja na nossa galeria, algumas fotos registradas pelo site durante os dias de Carnaval, na Rodoviária Novo Rio e Aeroporto Santos Dumont.
Atenção: Esta análise reflete diretamente a opinião do autor perante ao tema.
Links para consulta: